Homem operado ao olho errado em Coimbra. Clínica questionou "preferência"
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Um homem foi operado ao olho errado na Sanfil - Casa de Saúde de Santa Filomena, em Coimbra, em 8 de maio de 2021. O caso foi revelado, esta segunda-feira, num parecer da Entidade Reguladora da Saúde (ERS).
A ERS "tomou conhecimento de uma reclamação, visando a atuação da Sanfil – Casa de Saúde de Santa Filomena, S.A", sendo que, no âmbito do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), a referida clínica, "enquanto hospital de destino, aceitou, em 15 de abril de 2021, o vale de cirurgia (VC)" emitido a um utente "provindo do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) enquanto hospital de origem".
"Ora, a consulta pré-cirúrgica e a cirurgia tiveram lugar no mesmo dia, a saber, 8 de maio de 2021, donde decorre que, entre a data da aceitação do VC pelo hospital de destino (15 de abril de 2021) e a realização da cirurgia (8 de maio de 2021), decorreram 23 dias, o que consubstancia um desrespeito pelo ponto 103 da Portaria n.º 45/2008, de 15 de janeiro", avalia a ERS.
Além deste facto, "estando a cirurgia prevista para o olho esquerdo - conforme proposta cirúrgica elaborada pelo CHUC e demais documentação clínica do utente -, o hospital de destino efetuou a mesma, erroneamente, ao olho direito".
"Todavia, é certo que, conforme admitiu o próprio hospital de origem, por lapso seu, não foi por este indicada, no campo informático específico da proposta cirúrgica, a lateralidade concreta da cirurgia, motivo pelo qual tal campo ficou com a menção 'Não aplicável'", adianta ainda a ERS, "sendo tal lapso imputável" ao CHUC, "o certo é que, da demais informação constante da proposta cirúrgica, consta a menção ao olho esquerdo ('OE') como o olho a operar pelo hospital de destino".
Deste modo, a Sanfil - Casa de Saúde de Santa Filomena "deveria ter operado o olho esquerdo, e não o direito, independentemente de este poder eventualmente enfermar da mesma patologia (cataratas) carecendo, por isso, do mesmo tipo de ato cirúrgico."
"Mais grave ainda" é o "facto de, neste contexto, o hospital de destino ter questionado o utente sobre qual o olho a operar e de ter operado o olho direito por ter sido essa a preferência do utente"
A Entidade Reguladora da Saúde afirma ainda, na deliberação, a que o Notícias ao Minuto teve acesso, que "a admitir-se que o HD tivesse dúvidas relativamente ao olho a operar em função da menção 'Não aplicável' no campo informático da proposta cirúrgica relativo à lateralidade, deveria ter contactado o hospital de origem para esclarecer tal questão e, se necessário, solicitar a alteração da proposta cirúrgica com a inclusão da lateralidade correta no campo informático devido".
"O que a Sanfil não podia fazer era assumir, por sua iniciativa e sem qualquer contato prévio com o CHUC, a decisão de ser o olho direito o olho a operar (quando da proposta cirúrgica e da documentação clínica do utente resultava, ademais, que era o 'OE', olho esquerdo), conduta que denota negligência e falta de zelo na prestação de cuidados de saúde ao utente", vinca a ERS.
Para a Entidade, "mais grave ainda" é o "facto de, neste contexto, o hospital de destino ter questionado o utente sobre qual o olho a operar e de ter operado o olho direito por ter sido essa a preferência do utente, pois que, em caso algum, podia o hospital de destino deixar à consideração do utente a decisão (técnica e científica) sobre o olho concretamente a operar".
Atualmente, termina a ERS, "verifica-se que a situação do utente já se encontra resolvida, tendo sido operado ao olho esquerdo no CHUC em 16 de dezembro de 2021 e recebido o acompanhamento pós-cirúrgico subsequentemente".
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