sábado, 2 de julho de 2022

Opinião: "A ESTRADA DA MORTE"

 


A Estrada da Morte

Comecei a fazer a estrada que liga Ponte de Sor a Abrantes em 1965 para vir visitar os meus tios a Mouriscas. E a verdade é que, nestes 60 anos, o traçado continuou a ser precisamente o mesmo. Quando fui candidato a presidente da câmara de Abrantes em 2009, uma das grandes bandeiras eleitorais do PS foi precisamente a construção do troço do IC9 que ligava Abrantes a Ponte de Sor ( : ) José Sócrates teve o descaramento de se deslocar a Abrantes para jurar, por todos os santinhos e ao som do foguetório socialista, na presença da candidata socialista que a construção desta ligação era uma prioridade do Governo.

No passado dia 23 de Junho, na estrada que liga Abrantes a Bemposta, voltou a repetir-se um brutal acidente de viação que envolveu um pesado de mercadorias e uma viatura ligeira, onde seguia uma família com três filhos, tendo morrido um adulto, com 36 anos, e uma criança, de 8. Por sua vez, no passado dia 11 de Novembro, no mesmo troço, um trágico acidente de viação entre um veículo pesado e uma carrinha de transporte de trabalhadores agrícolas fez duas vítimas mortais e seis feridos graves.

Comecei a fazer a estrada que liga Ponte de Sor a Abrantes em 1965 para vir visitar os meus tios a Mouriscas. E a verdade é que, nestes 60 anos, o traçado continuou a ser precisamente o mesmo. O único que mudou foi o tráfego rodoviário que aumentou brutalmente, sobretudo o trânsito de veículos pesados, o que provocou a deterioração do piso, sendo frequente a existência de buracos contínuos no alcatrão durante o período das chuvas.

Além disso, trata-se de uma estrada cheia de passagens estreitas onde é impossível o cruzamento de um ligeiro com um pesado, assim como de curvas e contracurvas apertadas que não permitem a um veículo pesado com atrelado efectuá-las sem invadir a semi-faixa contrária. E, para agravar ainda mais a situação, trata-se de uma estrada sem bermas, o que significa que o condutor do veículo que apanha com um veículo pesado de frente a invadir a sua semi-faixa de rodagem fica sem qualquer possibilidade de evitar a colisão, porque não tem qualquer escapatória.

Quando fui candidato a presidente da câmara de Abrantes em 2009, uma das grandes bandeiras eleitorais do PS foi precisamente a construção do troço do IC9 que ligava Abrantes a Ponte de Sor e que incluía a travessia do Tejo na zona de Tramagal com acesso directo à A23. E, apesar de ser evidente que se tratava de uma promessa eleitoral para ser metida na gaveta após das eleições, como eu disse nos dois debates em que participei, o primeiro-ministro José Sócrates teve o descaramento de se deslocar a Abrantes para jurar, por todos os santinhos e ao som do foguetório socialista, na presença da candidata socialista Maria do Céu Albuquerque (hoje, Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura), que a construção desta ligação era uma prioridade do Governo e ia ser uma realidade durante o próximo mandato.

Durante o meu mandato como vereador da Câmara de Abrantes (2009-2013), mostrámos a nossa indignação e revolta pela suspensão deste projecto, quer em artigos de opinião, quer na Assembleia Municipal, quer nas reuniões de câmara.

Maria do Céu foi eleita e reeleita, por mais duas vezes, presidente da câmara de Abrantes, foi ministra da Agricultura no 1.º, 2.º e 3.º Governo de António Costa e a variante que liga Abrantes a Ponte de Sor continua por construir.

Mas isto só mostra o cinismo dos nossos governantes que apenas se preocupam em fazer promessas para ganhar as eleições sem ter a mínima preocupação em cumpri-las. A Câmara de Abrantes é socialista, a Câmara de Ponte de Sor é socialista e a ministra da Agricultura foi a presidente da Câmara de Abrantes, durante três mandatos, assentes na promessa da construção desta variante e com a consciência da sua necessidade imperiosa, pelo que não existe qualquer justificação para que ainda não se tenha construído esta variante, por forma a evitar que o actual troço Abrantes – Ponte de Sor continue a ser uma verdadeira Estrada da Morte.

De uma coisa, no entanto, tenho a certeza: se o ministério da Agricultura fosse em Elvas, em vez de ser em Lisboa, esta variante já estava construída. Este é o grande drama do nosso país. Se os políticos e directores-gerais da Administração Pública atingissem o topo das suas carreiras em Vila Real, Guarda, Portalegre ou Beja, ninguém ouvia falar de desertificação do território ou de falta de coesão territorial. Mas como vão todos para Lisboa…

Santana-Maia Leonardo (in Mirante)

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